Como identificar um Distúrbio Ventilatório Obstrutivo?

Tempo de leitura: 2 min.
Atualizado em: 03/06/2023
Sumário

Interpretação de Espirometria

Quadro Clínico

Paciente do sexo feminino, 87 anos, IMC 31, com histórico de asma brônquica e Síndrome Hipereosinofílica. Tem tido sintomas frequentes de tosse, sibilos e dispneia intermitente. Realizada a espirometria abaixo:

Espirometria Imagem1
Espirometria Imagem1

Como interpretar?

1. Inicialmente sempre devemos observar a qualidade do exame:

A curva está adequada? Sim! O serrilhado na curva fluxo x volume é compatível com obstrução das vias aéreas

A paciente soprou por > 6 segundos

O sopro foi explosivo e mantido de maneira constante até o final do exame

O volume retroextrapolado (Vext) foi <5%

Foram realizadas 3 manobras (exame reprodutível), apesar desta informação não estar documentado neste exame

2. Análise da curva fluxo x volume

   A curva fluxo x volume evidencia uma concavidade, característica das doenças pulmonares obstrutivas

   Abaixo segue uma comparação entre as imagens da esquerda (curva Fluxo x Volume normal) com a da direita (Curva Fluxo x Volume com concavidade, típico do Distúrbio Ventilatório Obstrutivo)

Curvas espirometria DVO
CPT: Capacidade Pulmonar Total | VR: Volume Residual | CV: Capacidade Vital

3. Tem distúrbio ventilatório?

  O próximo aspecto a ser analisado é a relação VEF1/CVF. Se esta relação estiver normal e os valores VEF1 e CVF isolados acima do limite de inferioridade ou 80%, o teste é considerado normal.

 Se a relação VEF1/CVF abaixo do limite inferior de normalidade ou abaixo de 0,7 (no caso em questão essa relação é 0,52), estamos diante de um distúrbio ventilatório obstrutivo (DVO), caracterizado por redução do fluxo expiratório em relação ao volume pulmonar expirado (VEF1 /CVF). As principais doenças representadas neste grupo são asma - como a paciente em questão - e a DPOC. 

O distúrbio obstrutivo pode, ainda, ser classificado em gravidade a partir do VEF1 (%) pré-broncodilatador em:

>= 60%: Leve

41 a 59%: Moderado

<= 40%: Grave 

 A paciente apresenta um VEF1 pré- broncodilatador de 0,87L (49%), logo, um Distúrbio Ventilatório Obstrutivo, de grau moderado.

4. Resposta a broncodilatador

 O último passo que temos que ver, é se há ou não resposta ao uso do broncodilatador (geralmente utilizados 400mcg de salbutamol)

Há diferentes critérios que podem ser usados para avaliar essa resposta, dentre os quais, pode-se citar:

a. (ERS)

VEF1 ou CVF com aumento >= 12% do inicial e 200ml

b. (Pereira)

VEF1 ou CVF com aumento >=7% do previsto

   No caso e questão podemos calcular, em ambos critérios:

a. Aumento no VEF1: 150ml e 17%

    Aumento na CVF: 190ml e 11%

b. Aumento no VEF1: 58% - 49% = 9% variação

    Aumento na CVF: 75% - 67% = 8% variação

Logo, a paciente NÃO atinge resposta a BD pelos critérios da ERS, porém ATINGE pelos critérios do Pereira e, mais importante que isso, percebemos que os critérios pela ERS não são atingidos, porém houve sim um importante aumento da CVF, o que ficou muito próximo da resposta oficial a BD. Em uma paciente já com doença (asma e síndrome hipereosinofílica) instalada e com evidente mal controle da doença, não há dúvidas que seu tratamento deva ser revisto.

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