Como fazer diagnóstico de DPOC?

Tempo de leitura: 3 min.
Atualizado em: 20/07/2023
Sumário

 Paciente 68 anos, sexo feminino, procura atendimento com Pneumologista pois apresenta dispneia mMRC 3, ou seja, após andar poucos minutos no plano e tem tosse crônica produtiva. Nega sibilos. Nega idas ao pronto atendimento, ou pioras súbitas dos sintomas. Não vê problema nos seus sintomas, porque “tosse desde sempre, e é normal, porque fuma” e cansa para os esforços “porque é sedentária”. Veio à consulta porque sua filha insistiu.

# HPP:

- Tabagismo ativo, 50 anos-maço (Fuma em média 20 cigarros por dia, há 50 anos)

- Hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia

   Paciente diz que tem muitos anos que não passa no médico, e não sabe dizer, ao certo, o que mais tem de doença. Vacinou somente para a COVID-19 (todas as doses necessárias até então).

 >>> Destrinchando esse caso:

1) Como classificar a dispneia?

   Na pneumologia, devemos graduar a intensidade da falta de ar (dispneia) pela escala de mMRC, vamos relembrá-la?

Classificação de mMRC (Modified Medical Research Council):

dispneia mmrc
dispneia mmrc

2) Como calcular a Carga Tabágica?

   Multiplicamos o número de maços de cigarro fumados por dia, no caso, a paciente fuma 20 cigarros ao dia (1 maço) x o número de anos que fuma, neste caso 1 maço x 50 anos = 50 anos-maço.

   Vale lembrar que não existe uma quantidade considerada “segura”, uma vez que todo cigarro é considerado nocivo, logo, não existe uma carga tabágica considerada não nociva, no entanto, a quantidade inalada pode nos orientar quando a doenças tabaco-relacionadas, de forma que pessoas com “baixa carga tabágica” (<10 anos-maço) devem ter menor probabilidade de doenças tabaco-relacionadas quantidade-dependente, como enfisema, a um passo que “grandes cargas tabágicas” (>20 anos-maço) reforçam essas condições.

3) Essa paciente tem diagnóstico de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica? Como classificá-la?

   No momento, não podemos confirmar esse diagnóstico! Para diagnóstico de certeza da DPOC são necessárias 3 coisas:

a. Exposição relevante à agente conhecidamente nocivo/tóxico 

b. Sintomas (dispneia, tosse crônica)

c. Espirometria com Distúrbio Ventilatório Obstrutivo (DVO), ou seja, com Relação VEF1/CVF < 0.7 (Critério de DPOC pelo GOLD 2023)

   Ou seja, apesar de ser MUITO provável esse diagnóstico, pelo seu histórico e sintomas, só podemos fechar esse diagnóstico após a realização de uma espirometria, que irá, também, auxiliar na graduação gravidade da DPOC.

   O que podemos presumir, por ora, é que essa paciente tem a classificação “B”. Vamos revisar essa classificação (Pelo GOLD 2023)?

A: Pouco sintomático, não exacerbador

B: Muito sintomático, não exacerbador

E: Independente dos sintomas, paciente é exacerbador

ABE
ABE

   Após a realização da espirometria, devemos graduá-la através do seu VEF1 pós broncodilatador, ou seja, se a paciente vier com VEF1 pós-BD de 45%, ela terá a classificação final de 3B.

classificacao gold
classificacao gold

4) Quais comorbidades devemos procurar ativamente nesta paciente?

- Cardiovasculares: Arritmia, insuficiência cardíaca (sendo a mais comum nestes casos, a de fração de ejeção preservada), doença coronariana, doença arterial oclusiva periférica;

- Pulmonares: Enfisema, câncer de pulmão, bronquiectasia, bronquiolite, apneia do sono, hipoxemia

- Metabólicas: Diabetes mellitus / resistência insulínica

- Osteomusulares: Osteopenia/osteoporose, sarcopenia

- Neurocognitivas: Déficit cognitivo, depressão, ansiedade

- Hematológicas: Anemia, policitemia

- Gastrointestinais: Gastrite, disfagia

- Odontológicas: Periodontite

5) Qual tratamento inalatório você iniciaria para essa paciente?

  O tratamento inalatório inicial recomendado para Gold B é a associação LABA + LAMA (LABA: Long-acting Beta-Agonists, LAMA: Long-acting Muscarinic Antagonists). De preferência em um único dispositivo inalatório.

>> Por onde estudar? https://goldcopd.org/2023-gold-report-2/

Faça parte da equipe Pneumorando!
Seja um Colaborador!
magnifiercrossmenuchevron-down